segunda-feira, 24 de março de 2014

Há um lugar, há relinchos por lá







Há um lugar
Há relinchos por lá
Relinchos que as vezes são silvos
Silvos que as vezes lembram as cobras
Das grutas que existem nesse lugar
Nesse lugar cães caminham felizes
Caem do céu desse céu abundancias
Gatos pulam nas árvores e alcançam nuvens
E descem voando com pássaros
Atrapalhados como albatrozes
Tem seus pousos meio forçados
Existem todas as cores nesse lugar
Hipopótamos brincam nos lagos
E brincam com pintinhos e seus pais galos
Tatús são os grandes engenheiros
Em parcerias sempre com formigas
Anjos voam junto a pássaros
Voos circundantes, voos circulantes
Só existe sol e luz e não existe o cansaço
Não existe sangue,  nem uma gota de descaso
Esse mundo move-se lentamente
No cuidado extremo pelo outro
É assim que não existe tristeza ou desgosto
É assim esse capitulo desse poema exposto
Esse lugar é onde vejo  iguais  e seus rostos
As vezes me pergunto
se poderei caminhar por lá um pouco
Se poderei gozar de seus silvos,
 urros, latidos, relinchos e assobios
E toda sorte de sons e ruídos afinados ou roucos
As vezes me pergunto pois sou da raça do desconforto
Da raça que de tudo destrói um pouco
Há um lugar
Há relinchos por lá
Mas não posso entrar,

sou da raça dos sanguinários loucos.

quinta-feira, 20 de março de 2014

As asas, o vento, o arreio, o peito.































Corta minhas asas e joga-as ao vento
Corta os dedos então já não mais escrevo
Braços amarrados é como me  vejo
Olho para os lados e para os meios
Arranca as unhas com o alicate cego ao meio
Joga meu corpo em uma vala em desvelo
A mais próxima de seu passeio
Finge que nao me ve chafurdando o esterco
Deixo poema escrito , rasgado e mal feito
Arranca a pele e libera meu arreio
Nada importa a não ser o seu jeito
Nada importa senão meu voo para seu peito


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Para onde segue esse cão?

        


          Para onde segue esse cão,  subindo ladeira direção acima, branco encardido, manchas marrons desbotadas... ora desbotadas, ora encardidas.
            Sonhei com ele após esse encontro, sonho doloroso, sonho triste de desejo de salvação, mas o que posso fazer meu irmão? Eu poderia resgatar todos da tristeza e da solidão...eu poderia, mas não tenho asas nem poderes de anjo ou de guardião. Não tenho esses poderes, mal me resgato de minhas dores e tombos em vão...
Havia  medo em seus olhos, ia seguindo mancando, mas parece que havia um norte, havia uma direção, havia um objetivo.
         Eu o chamo e diante de minha estupida e colossal impotência, abana-me o errado, parecendo entender que não sou eu que vou salva-lo, parecendo perdoar-me,  infelizmente não sou eu, mas para onde segue o cão? Afago sua cabeça – Onde coloca-lo em casa? --- Abana o rabo, abaixa a cabeça e sai em ritmo meio acelerado, preocupo-me vai em direção aos dois “guardiões da rua”, as vezes brinco que são os dois gerentes da rua: o gordo e seu filho. O filho é alegre, brincalhão e o gordo? Bem o gordo, tem idade, é lento, mas os dois sempre abanam o rabo quando me avistam, sabem que sou amigo e as vezes levo quitutes que na verdade sao nossas sobras guardadas sempre para esses dois.
            Temi por ele, Gordo e seu filho, iriam proteger território, acelerei o passo, aquele pobre e desbotado manquitola não iria resistir. Latidos, latidos agressivos, corri, luzes acenderam – Rex! Não Rex! – O grito foi para o gordo, o pensamento passou rápido – Rex? Mas que nome mais sem graça.
            Gordo e seu filho o afungentaram e  sossegaram, ele se foi correndo, subi correndo a rua, mato de um lado, uma rua de casas tristes do outro, casas feitas de qualquer jeito, sem planejamento, tijolos amontoados, paredes tortas e desalinhadas, ele se foi e a tristeza me invadiu...Não posso salvar a todos, mas esse eu poderia salvar, tinha segundos para pensar onde deixa-lo, como deixa-lo, como protege-lo, mas rapidez, principalmente de pensamentos nunca foi o meu forte, nunca foi....planejo demais, penso demais e executo de menos. Sou assim, desisti de mudar isso, isso é coisa de meu cerne, é coisa de minha genética.
            A vida segue e me pergunto, quantos eu poderia salvar que não salvei, quantos eu poderia ouvir que não ouvi, quantos eu poderia ter dado um pouco mais de meu tempo ou de mim? Quantos?
Mas pensei apenas em mim, em minha corrida contra o tempo, em meu umbigo e só vi a mim cruzando a linha de chegada, que com certeza seria eu o primeiro.
            Ser feliz é fazer o outro feliz, ser feliz talvez seja liberar o sofrimento sem escolher rosto, sem escolher principalmente espécie. Talvez, não nessa vida, talvez essa vida seja apenas um longo e dolorido aprendizado, mas quem sabe em outra vida, todos possamos viver felizes e sem medo, caminhando juntos e zelando pela felicidade um do outro. Talvez nao haja mais Gordos dominando pequenos territórios, nem Manquitolas fugindo de seu medo, fugindo desesperado. Quem sabe...

            

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Provarei de ti





Provarei de ti

Provarei aos poucos
Gota por gota, poro por poro
Átomo por átomo, orvalho por orvalho
Provarei de ti
E deixarei fluir, deixarei seguir
Tudo o que há aqui
Ha milenios guardado e o fluir
O fluir de meu corpo
Seguira o seu rosto
Para onde o verde aponta
Para onde a aurora desponta
Onde sera nossa casa semi-pronta
Provarei de ti
Nao sei o que sera de mim
Mas não terei mais nada a pedir
Talvez um suco, talvez um fruto
Talvez um pouco do mato, do escuro
Provarei de ti
Nesse dia provarei de mim.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Vitaminas Culturais : Noites insones

Vitaminas Culturais : Noites insones: Olho pela janela, pelas persianas que quebram e lascam a luz Noites insones ...

Noites insones






















Olho pela janela, pelas persianas que quebram e lascam a luz
Noites insones são apenas noites insones, que não se dorme e se some
São fantasmas que deitam ao meu lado e riem um pouco de meus medos
São fantasmas centenários que acendem um cigarro e colocam-me arreios
Estou na época de mudanças, sempre estive na época de mudanças
Sou mudanças constantes, revolucionárias e também convencionais
Sou a mudança desesperada que tem sede dessa constância
Sou o escudeiro fiel de meus filhos que desbravam campos e montanhas
Mas também sou o guia fiel de minha mãe em sua entranha
Sou o melhor amigo de mim mesmo mas muitas vezes sou fraco
Muitas vezes quero abandonar-me de mim mesmo
Muitas vezes quero deixar-me ao lado desesperado e acomodado de tudo
Sim, sou insuportável, mas não consigo abandonar-me
Há o eu em mim que suporta tudo de mim
Mas há o eu em mim que esta cansado desses meus apegos e desesperos.
Olho pela janela e sei que um dia tudo vai mudar
Mas não poderei atestar ou ao menos contemplar
Juntarei-me antes a poeira do cosmos
Não estou sozinho, somos um, somos únicos
A gorda barata cruza correndo o meu quarto
Cães amados ladram ao lado fazendo fundo para os gatos
Que ensaiam mais uma briga no telhado
Apago a luz, noites insones, não se dorme, noites que se some.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Não queria mostrar esse meu desespero por ti
























Não queria mostrar esse meu desespero por ti,
Lanço estrelas no asfalto, pontas de cigarro no espaço
Na calada do dia foges desesperada de meus afrontes
Afrontes quem vem de ontem e que vem de antes
Mas na verdade estou profundamente desesperado por ti.

Não queria mostrar esse meu desespero por ti,
Nem meu desespero desesperado por mim
Não queria gritar por ti nas redes sociais
Nem usar da boca de todos os animais
Mas acontece que estou desesperado por ti

Não nasci assim, mas tornei-me assim
Com essa fome de tudo que não tenho
De tudo que não sei, que não vi, que não veio
Não queria gritar por ti de minha janela
De sua altura só vejo as vidraças e suas fantasmas.

Não queria olhar suas fotos estáticas como meus sonhos
Mas se é tudo o que tenho, suas frases e seus medos
Não queria mostrar esse meu desespero por ti
Queria dar tudo o que sonhas, tudo o que esperas
Não queria nunca esse desespero por ti.

Mas esse desespero plantou-se aqui,
Arraigou-se e entranhou-se e danou-se pelo sangue
Correndo firme e forte em todas as direções
Explodindo a cada frase sua a cada olhar o seu olhar
Não queria mostrar esse meu desespero por ti...